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Maximiliano Kolbe: escritos do santo morto há 80 anos em Auschwitz chegam ao Brasil

Em entrevista à Agência SIGNIS, assistente internacional da Milícia da Imaculada, Frei Gilson Nunes diz que escritos dão voz ao fundador da Milícia da Imaculada.

Há 3 anos - por Cléo Nascimento
Maximiliano Kolbe: escritos do santo morto há 80 anos em Auschwitz chegam ao Brasil
Qual a melhor maneira de conhecer alguém, entender sua história, saber o que pensa sobre o mundo, sobre a vida? Certamente, dirigindo-se à própria pessoa; ainda que seja a partir do que ela escreveu. Essa é a proposta do livro "Os escritos de São Maximiliano Kolbe", que reúne documentos importantes do frade franciscano, morto no campo de concentração de Auschwitz, em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Com lançamento previsto para 14 de setembro, a publicação de 2500 páginas é apresentada para pré-venda no correr das celebrações pelos 80 anos do martírio de Kolbe, que entregou sua vida para salvar um pai de família.
 
A Agência SIGNIS conversou com o assistente internacional da Milícia da Imaculada, Frei Gilson Miguel Nunes, OFMConv, sobre a vida do santo e o lançamento desta obra.
 
 
Qual a importância de contarmos com uma obra dessa grandeza para a compreensão da vida e obra de Maximiliano Kolbe?
Nós temos algumas boas biografias no Brasil, inclusive uma, publicada pela Milícia da Imaculada em parceria com o Instituto Missionárias da Imaculada Pe. Kolbe (Maximiliano Kolbe, o Santo de Auschwitz, de Patrícia Treece), que são os testemunhos daqueles que conviveram com ele, porém, a biografia é um "falar de", mas nos escritos é Kolbe mesmo quem fala de si.  É dar voz à Kolbe! Eu tenho dito que os escritos são uma forma de ouvir São Maximiliano por ele mesmo. É como que, ao ter um acesso direto a este documento, o leitor também tenha acesso ao seu pensamento e espiritualidade, às suas angústias, aos seus sonhos. Então, a importância de ter em língua portuguesa é poder ir diretamente à Kolbe. Não são mais apenas impressões.
 
Uma das biografias que temos no Brasil é "Maximiliano Kolbe: número 16670",  de Gino Lubich. E, ele traz  um fato interessante, de que Pe. Kolbe não se sentia à vontade para narrar situações vividas por ele. Por exemplo, ao ter que escrever sobre o surgimento da Milícia da Imaculada, ele o faz apenas em 1935 e diz "já que o padre guardião me ordena escrever...". Considerando esse desconforto, mesmo para falar de temas alheios à sua vida pessoal, como foi possível reunir tantos documentos? A partir de que momento Pe Kolbe, passa a escrever sobre seu legado?
É importante dizer que, por exemplo, a primeira edição crítica em polonês (1970-71), são nove volumes, os quatro primeiros são cartas, de 1912 a 1941. No quinto volume nós temos os apontamentos pessoais de Pe. Kolbe, o sexto e sétimo são compostos por artigos e, nos oitavo e nono volumes, nós temos o índice remissivo de todos os temas tratados por ele. Então, eu poderia assim dizer que, Kolbe escreve de si porque ele quer escrever da Imaculada. Então, ele aparece como causa segunda. Basta observar que os primeiros volumes são cartas. É Kolbe quem responde aos frades na missão, aos seus superiores, ou então, aos leitores do Cavaleiro da Imaculada que, neste ano, celebra o centenário, a maior revista da Europa, na época. Nestes escritos, encontramos a experiência mariológica e apologética de Maximiliano Kolbe. É aí que nós "colhemos" Kolbe.  Ao propagar a causa da Imaculada,  ao exercer a caridade com quem lhe escrevia e pedia uma resposta, aparece o homem, o frade, o missionário, o comunicador.
 
É como se fosse uma autoapresentação de forma indireta, por meio de sua espiritualidade, seu pensamento...
É justamente isso. É mergulhar na espiritualidade de Kolbe. Qual foi o caminho? Quais foram as ideias forças? Quais foram os sonhos, os ideais que pulsaram no coração de Kolbe? Quais são as suas convicções? Como ele lidava com a morte, com o pecado, com a fragilidade, com o problema do mal no mundo? Então, nós vamos conhecer o que Kolbe pensava sobre isso no seu caminho de Consagração à Imaculada.
 
Como o livro foi organizado?
Logo depois que Maximiliano Kolbe morreu, em 1947, os seu filhos espirituais, os frades que conviveram com ele, começaram a reunir seus escritos, suas cartas, seus artigos... Vale à pena dizer que a maioria dos escritos de Kolbe é composta por cartas. Ele tinha uma correspondência epistolar muito intensa. Depois, os frades passam a mimeografar essas cartas e, posteriormente, as transcrevem através de datilografia.  Em 1949 e 1952 saem duas edições ampliadas, apenas para uso dos frades de Niepokalanow (nome em polonês do local fundado por Maximiliano Kolbe, para desenvolver seu trabalho de evangelização, traduz-se como "Cidade da Imaculada"). Em 1957 e 1960, os freis Arnoldo e Inocêncio, arquivistas de Niepokalanow, lançam dois volumes com artigos e cartas. E, finalmente, em 1966, em preparação para a beatificação de Kolbe, é publicada uma edição crítica, coordenada pelo Frei Joaquim Bar. Na Itália, os escritos de Kolbe vem à lume entre 1975 e 1978 e, uma vez traduzido para o italiano, é traduzido também para diversas outras línguas. A edição brasileira é a tradução da segunda edição crítica italiana, publicada pelo Centro Nacional da Milícia da Imaculada, da Itália, em 1997.
 
Com a chegada dos nazistas à Polônia, muitos documentos podem ter se perdido. Ou seja, essa quantidade de escritos poderia ser ainda mais robusta?
Sem dúvida! A maioria das cartas que nós temos são aos superiores e aos frades. Mas, por exemplo, Pe. Kolbe também escrevia muitas cartas aos leitores e muito disso, infelizmente foi perdido; além de outros documentos. Graças aos primeiros confrades foi possível reunir parte do material que compõe estes escritos.
 
Originalmente, em quais idiomas estes documentos foram redigidos?
Maximiliano Kolbe escreveu em japonês, latim, alemão e polonês. Daí é possível ter uma dimensão do trabalho, encabeçado por Frei Cristóforo Zambeli, que organizou todo esse material para que fosse publicável. Só na edição crítica de 1970-71, mais de 150 pessoas trabalharam para reunir, ordenar e codificar esses volumes. Esta edição traduzida, que chega ao Brasil em parceria com a Paulus Editora, tem 2.500 páginas.
 
Qual o motivo de lançá-lo num único volume?
Sem dúvida é uma razão econômica, porque a tiragem em três volumes encareceria ainda mais a obra. Tem também a questão da praticidade de ter um único livro contendo todos os escritos. Além disso, as obras completas dos clássicos da espiritualidade, como Santa Teresa D'Ávilla, São João da Cruz, os escritos de São Francisco de Assis e de Santa Teresinha do Menino Jesus estão dispostos em um único volume. É uma facilidade para o leitor.
 
Quem esteve à frente deste trabalho para esta versão em língua portuguesa?
Nós todos trabalhamos exaustivamente, mas o mérito para que esta obra chegasse ao Brasil é do frade guardião do carisma da MI, Frei Sebastião Benito Quáglio, OFMConv. E para a tradução nós contamos com a leiga consagrada Matilde Luvisotto e também a missionária italiana Sara Caneva. Foram mais de três anos de trabalho, entre tradução e revisão da obra, que ficou sob os cuidados do Frei Ari Pintarelli, OFMConv. Essas pessoas, em conjunto com toda equipe de redação da Associação Milícia da Imaculada, fazem parte deste lançamento.
 
Esta obra chega justamente num marco importante: os 80 anos do martírio de São Maximiliano Maria Kolbe. O que se sabe dos últimos momentos da vida dele?
Nós temos as últimas cartas e temos também testemunhos daqueles que viveram a deportação de Kolbe. Em algumas cartas, após o retorno de sua primeira deportação, ele reflete uma preocupação quanto ao futuro da Obra. E um dos seus pensamentos diz muito sobre este período. Em uma de suas cartas, ele diz aos frades: "Já se passaram vários meses desde que, por vontade da Imaculada, vocês se dispersaram em várias direções. Todavia, em qualquer lugar que se encontre, uma alma que ama verdadeiramente de coração a Imaculada transmite ao ambiente que a rodeia o próprio amor a Ela, quer dizer, conquista para Ela almas em quantidade cada vez mais numerosa e de uma maneira cada vez mais perfeita". Isso quer dizer que, onde está um mílite, um consagrado à Nossa Senhora, mesmo sem vínculo institucional, ali está também a MI. Então, Kolbe sente a morte que chega, percebe toda essa violência do nazismo já nessa primeira prisão, e ele vai preparando os frades para o desfecho de sua vida. 
 
Qual a previsão de lançamento do livro Os Escritos de São Maximiliano?
O livro estará em nossas mãos em 14 de setembro. Mas estamos em pré-venda. Quem reservá-lo a partir de hoje, terá 10% de desconto. Para isso, basta acessar o site da Milícia da Imaculada, onde poderá encontrar todas as informações sobre como adquiri-lo.
 
Como os escritos de Pe. Kolbe podem nos ajudar individual e coletivamente?
Kolbe morreu com 47 anos, uma pessoa jovem. Eu acredito que os escritos podem nos ajudar a entender a visão dele, quais eram os seus valores e qual era sua missão. Depois, os escritos também vão nos ajudar a entender como um homem cheio de iniciativa, foi também um homem obedientíssimo. Ou seja, ele soube conciliar capacidade de criar com a obediência. Além disso, ele foi um gestor de grandes obras, que envolviam muito dinheiro. Para se ter uma ideia, a tipografia que ele montou é uma das mais modernas da época e também mais caras. Mas, Maximiliano Kolbe conseguiu lidar com esse universo material, ao mesmo tempo que era uma pessoa muito pobre. Por exemplo, nos escritos, é possível ver que, quando ele esteve no Japão, tinha apenas um par de sapatos, que era dividido com Frei Zeno...Como é isso? Como ele não se deixou fascinar pelo poder e pelo dinheiro? É muito fácil perder a alma, se vender numa situação dessas. A gente vê isso no cenário público, hoje em dia. Por fim, vemos um homem tão moderno, amparado nos valores cristãos perenes, não perdendo aquilo que lhe era fundamental. Portanto, a chegada dos escritos no Brasil agora, num tempo de totalitarismo, de autoritarismo, quando as instituições democráticas estão sendo duramente ameaçadas, em meio ao ódio, num tempo de indiferença à vida em meio à uma pandemia, receber Kolbe, que grita "não esqueçam o amor", é um presente de Deus para nós. E São Maximiliano Maria Kolbe pode nos inspirar a construir uma sociedade mais justa e mais fraterna.
 
 
Escritos de São Maximiliano
Milícia da Imaculada e Paulus Editora
Em pré-venda através do site

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