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Pe. Janison de Sá: os católicos estão lendo mais a Palavra de Deus

Entrevista da Semana

Há 3 anos - por Cléo Nascimento
Pe. Janison de Sá: os católicos estão lendo mais a Palavra de Deus
(foto por Arquivo)
Há 50 anos a Igreja no Brasil empreende esforços numa proposta para conscientizar o povo da centralidade da Palavra na vida cristã. Na prática, isso quer dizer que é preciso trazer a reflexão bíblica para nossa vida cotidiana, seja na vida pessoal e familiar, seja no trabalho pastoral, em comunidade. A iniciativa deu retorno. Os católicos, de fato, estão lendo e estudando mais as Escrituras. Padre Jânison de Sá, assessor da Comissão Bíblico Catequética da CNBB, diz ser testemunha dessa mudança de comportamento.
Nessa entrevista ele traz essa questão e fala também da importância do mês da Bíblia, da influência do Concílio Vaticano II e o tema abordado em 2021. Confira.
 
Há 50 anos a Igreja no Brasil dedica setembro para uma reflexão mais aprofundada sobre a Bíblia. O que isso representa?
Celebrar os 50 anos do mês da Bíblia é muito importante. São 50 anos de caminhada, de reflexão, de aprofundamento do Santo Livro. E representa, de fato, a vitalidade da Igreja do Brasil que propõe para nós cristãos uma reflexão deste tema, apontando caminhos para uma ação evangelizadora. Representa também a importância de uma caminhada, de uma organização das dioceses, paróquias e comunidades ao redor da Palavra, este esforço de colocar a Palavra no centro da nossa ação e da nossa missão.
 
Em que se diferencia a reflexão sobre a Palavra de Deus em setembro em vista de outros momentos do ano?
Reforçamos que durante todo o ano as pessoas podem se aproximar da Palavra de Deus, mas setembro, para a Igreja no Brasil é considerado, há 50 anos, é um mês temático. Isso quer dizer que neste mês há um aprofundamento maior e a celebração ao redor da Bíblia. Além disso, essa proposta quer envolver e motivar a todos e não apenas pessoas que têm mais interesse no estudo bíblicoo, mas também as pastorais grupos e movimentos, para que se debrucem no texto bíblico escolhido. Neste ano, a Carta aos Gálatas.
 
Na prática, como isso se aplica, por exemplo, de forma isolada, no ambiente familiar ou até mesmo na comunidade?
É sempre importante que as comunidades, paróquias e dioceses e também as famílias possam se reunir ao redor da Palavra. Por exemplo, a leitura do Evangelho de cada dia, a leitura de outros textos ou participação em escolas bíblicas, catequéticas, escolas de teologia, todas elas favorecem e propiciam para que cada cristão possa se aproximar mais da Palavra de Deus.
 
Como o Concílio Vaticano II influenciou esta iniciativa ?
A caminhada bíblica no Brasil, já nos anos 1940 despertava um grande interesse em fazer com que a Palavra chegasse a todo povo de Deus. Mas, um marco nesta caminhada, com certeza, foi o Concílio Ecumênico Vaticano II. A Constituição Dogmática Dei Verbum dá um impulso muito importante para que a Palavra de Deus pudesse chegar a toda as pessoas. Mas não só a Dei Verbum, creio que todo Concílio com as suas constituições e decretos impulsionou e favoreceu um novo florescer na Igreja e destacou a centralidade da Palavra na vida e missão da Igreja. São Jerônimo já dizia: "Ignorar as escrituras é ignorar o próprio Cristo". Então, não podemos ignorar a Bíblia. Precisamos conhecê-la melhor e, assim, conhecer melhor o nosso Mestre, Senhor e Salvador que é Jesus Cristo. E, assim, a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, se deu um forte impulso na animação bíblica, nos estudos e círculos bíblicos, fazendo com que os fiéis, leigos e leigas, todos os cristãos pudessem conhecer e se aproximar mais da Palavra, e rezar a partir desta Palavra.
 
É muito comum, ao entrar na casa de um cristão e encontrar uma Bíblia. Em sua experiência, como sacerdote, tem percebido que os católicos estão lendo mais a Bíblia? O que falta para avançarmos mais neste conhecimento?
Sou padre há 26 anos, trabalhei em diversas em paróquias e desenvolvi trabalhos pastorais diversos. O que eu percebo nestes anos de ministério é que, de fato, os católicos não só conservam a Bíblia em sua casa, em um lugar de destaque, mas cresceu bastante o interesse pela leitura da Bíblia. Você não imagina a quantidade de pastorais e movimentos que, diariamente, procuram ler e meditar o Evangelho do dia. É um avanço enorme! Outro aspecto importante é que nas reuniões, encontros, formações, a leitura do texto bíblico é fundamental. Nos últimos anos, a catequese a serviço da iniciação à vida cristã tem priorizado a Bíblia. Chegou-se até a afirmar nos anos 1980 no Brasil que a Bíblia era o livro principal da catequese. Mas ainda precisamos avançar na leitura, estudo, mas, ao mesmo tempo, meditação e oração. Precisamos avançar, por exemplo, na leitura orante da Bíblia, conhecer esse método para podermos rezar a partir do texto bíblico. Nos deixar conduzir pela Palavra de Deus. Precisamos ainda motivar sempre mais outros cristãos, outras pessoas, que não tenham vergonha, não tenham medo de ler a Bíblia, de andar com a Bíblia. Existem textos mais difíceis? Sim. Mas pedimos ajuda de alguém em nossa comunidade que conhece melhor. E, se estamos com dificuldade, é porque precisamos ler mais, nos familiarizar sempre mais com a Palavra de Deus. Precisamos de um novo ardor neste tempo, particularmente, diante da pandemia de Covid-19, quando estamos mais em casa, é preciso que nos acostumemos a ler mais a Bíblia e dela no alimentarmos. O Concílio fala da mesa da Palavra e da mesa da Eucaristia, então, que possamos aproveitar mais em família e tantos outros momentos e participarmos mais dessa Mesa da Palavra que a Igreja nos proporciona e nos oferece.
 
Em 2021, qual aspecto foi escolhido para o mês da Bíblia?
Neste ano, a Comissão Bíblico Catequética propôs para toda a Igreja do Brasil a Carta de São Paulo aos Gálatas. Nos últimos anos se escolhe uma carta e todos os grupos, pastorais, movimentos, instituições bíblicas também refletem a partir do mesmo livro bíblico. E o lema deste ano é "Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus" (Gal 3, 28). A centralidade de toda a Carta é o Hino Batismal que está no capítulo 3, versículos 26-28: "Com efeito, vós todos sois filhos de Deus pela fé no Cristo Jesus. Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus". Então, este lema nos motiva a buscarmos a unidade, a comunhão entre nós, a centralidade da pessoa de Jesus Cristo em nossa vida, a nossa vocação batismal. Somos todos batizados e batizadas, o que nos faz irmãos. O Hino Batismal é como o Sol, irradiando seus raios em toda a carta.

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