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Dom Walmor: compromisso da CNBB exige coragem para não se omitir diante das graves crises no país

Entrevista da Semana: Arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil falou sobre os 69 anos da entidade e o papel dela para a Igreja e sociedade brasileira

Há 3 anos - por Cléo Nascimento
Dom Walmor: compromisso da CNBB exige coragem para não se omitir diante das graves crises no país
Nesta quinta-feira (14), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) completa 69 anos de fundação. Nestas quase sete décadas, a entidade presenciou transformações históricas, crises socioeconômicas, transições políticas, mudanças culturais e comportamentais e, mesmo sujeita a críticas, não se esquivou de marcar seu posicionamento em inúmeros assuntos e situações ao longo dessa história.
Essa postura se confirma também na gestão da atual presidência, liderada pelo Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Em meio às demandas e atividades de sua intensa rotina, ele encontrou um momento para responder algumas perguntas para a Agência SIGNIS. A responsabilidade do cargo não o intimida. Sereno e bastante tranquilo diz: "Sirvo e dou graças a Deus por servir".
 
 
Como o Sr. avalia a caminhada da Igreja no Brasil a partir da criação da CNBB?
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é a imprescindível força da ação evangelizadora de nossa Igreja, a serviço do povo de Deus há quase 70 anos. A sua criação, em 1952, foi um gesto profético, fruto da lucidez de pastores que nos precederam na missão de ajudar o mundo a abrir-se ao amor de Deus. Nestas quase sete décadas, a CNBB se consolidou como sinal vivo e atuante da unidade de nossa Igreja e, de modo especial, da comunhão do nosso episcopado, juntos trabalhando para evangelizar o Brasil-continente, em profunda sintonia com o magistério do Papa. Em sua história, a CNBB é interpelada a oferecer respostas aos grandes desafios de cada tempo, no serviço às muitas dioceses e à sociedade brasileira, marcando-a com o sabor do Evangelho.
 
Qual o papel da Conferência para a Igreja no Brasil e perante a sociedade?
A CNBB sempre procura o diálogo, está a serviço de todos para oferecer as suas contribuições que não são desta ou daquela pessoa, uma visão personalista da realidade, mas a síntese bonita da singularidade de nossa Igreja, presente em todo Brasil, interligando Norte-Sul, Leste-Oeste. A CNBB não é, pois, um clube de amigos, um tipo de governo ou uma instância de poder, expressa a unidade dos bispos do Brasil, tecendo entendimentos, compreensão aprofundada sobre os muitos problemas brasileiros, a partir da contribuição de diferentes perspectivas, sempre no horizonte intocável do Evangelho de Jesus. Diante dos principais problemas enfrentados pela sociedade brasileira, a CNBB se posiciona. Não se trata de opinião simplesmente de seu presidente ou da sua presidência, mas de um entendimento construído a partir de muito diálogo; um entendimento alcançado principalmente a partir da escuta dos mais pobres e iluminados pelo Evangelho da vida. O nosso compromisso cristão de estar ao lado dos pobres, na defesa da casa comum exige coragem para não se omitir diante das graves crises que o país enfrenta.
 
Por conta dessa postura, a CNBB, por vezes é criticada, inclusive por membros da Igreja, por assumir um lado mais "progressista". Como a Conferência lida com esse julgamento? De alguma maneira, ele impacta nas decisões de se pronunciar perante algum assunto?
Os cristãos católicos não devem temer a ataques ou críticas, pois o nosso mestre Jesus Cristo também foi perseguido, difamado; morreu na cruz em nome da verdade. Somos fortalecidos pela oração que nos une ao Evangelho, na certeza de caminhamos seguindo os passos de Jesus. Assim, renovamos a nossa certeza de que a vida sempre vence a morte. Importante dizer que o nosso compromisso em ser fiéis às lições de Jesus não permite retribuir hostilidades com a mesma moeda. A CNBB não difama, promove ataques ou calúnias, não se vale das ferramentas tecnológicas para disseminar e estimular hostilidades. Isto não significa passividade diante de agressões. Estamos atentos aos ataques que são direcionados à CNBB e aos cristãos católicos que, corajosamente, defendem os mais pobres para ações estratégicas, buscando corrigir visões distorcidas e impedir a propagação de inverdades. Uma equipe multidisciplinar, de juristas e comunicadores nos auxilia nessa importante missão.
 
Pessoalmente, como o senhor lida com as responsabilidades de estar num cargo tão exigente e de evidência? O que mudou na sua vida e rotina desde que assumiu a presidência da CNBB?
As mudanças foram muitas, com mais compromissos assumidos, novas frentes de trabalho. Sou o primeiro servidor na Arquidiocese de Belo Horizonte, que celebra neste ano um século de história, serviços e missão. Uma grande rede, com aproximadamente 1.500 comunidades de fé, em 28 municípios, 12 instituições, 13 santuários, vicariatos missionário-pastorais, uma rica e muito exigente complexidade. Mas quando fui eleito presidente da CNBB, maior conferência episcopal do mundo, não temi a responsabilidade assumida, embora consciente dos limites e dos desafios. Sei que Deus conduz todas as coisas. Sempre cultivei um coração aberto para servir cada vez mais. Importante dizer: na presidência da CNBB está um grupo muito competente de bispos e assessores, uma equipe unida e integrada. Referência especial aos nossos irmãos bispos que também integram a presidência: Dom Jaime Spengler, Dom Mário Antonio da Silva e Dom Joel Portella Amado. Também é preciso destacar o belo e importante trabalho desenvolvido pelo Conselho Permanente da CNBB, por nossas comissões e assessorias no CONSEP (Conselho Episcopal Pastoral). As facilidades tecnológicas contribuem para melhor gerenciarmos o tempo, intercalando encontros presenciais com as reuniões no ambiente virtual. Sinto uma especial alegria em poder servir à nossa Igreja, oferecendo contribuições para a nossa conferência episcopal. Sirvo e dou graças a Deus por servir.
 
Existem muitos desafios pela frente. Quais são os planos e projetos da CNBB para a Igreja no Brasil e também com relação aos 70 anos de fundação a serem celebrados em 2022?
A CNBB busca contribuir para que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil inspirem sempre, e cada vez mais, trabalhos nas comunidades de fé do nosso Brasil. As Diretrizes, fruto da Assembleia Geral dos Bispos do Brasil - portanto, resultado das contribuições do episcopado brasileiro -, estão em profunda comunhão com o magistério do Papa Francisco e convidam a nossa Igreja a ser cada vez mais Casa da Palavra, Casa do Pão, Casa da Caridade, Casa da Missão. Uma tarefa importante e fundamental: a CNBB vai contribuir nos próximos anos com muita dedicação com o processo sinodal, convocado e iniciado pelo Papa Francisco no domingo, 10 de outubro. O Sínodo sobre a sinodalidade na Igreja é oportunidade para renovarmos as nossas estruturas, revigorarmos a nossa ação missionária. Uma Igreja cada vez mais participativa, em que todos caminham juntos, unidos ao magistério do Papa Francisco. É importante que o fiel, ao escutar a palavra "Sínodo" tenha sempre esta compreensão: Sínodo significa caminhar juntos, todos protagonistas de uma Igreja que é povo de Deus.

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