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Vacina, eleições e aumento da pobreza estão entre as preocupações da Igreja no Brasil em 2022, diz Secretário-Geral da CNBB

Para Dom Joel Portella Amado, 'insegurança emocional' gera incertezas e abala confiança da população em estratégias de combate à Covid-19, como a vacinação.

Há 2 anos - por Cléo Nascimento
Vacina, eleições e aumento da pobreza estão entre as  preocupações da Igreja no Brasil em 2022, diz Secretário-Geral da CNBB
O ano mal começou e a sensação é a de estar para além do segundo semestre, dada a quantidade de acontecimentos nesta primeira quinzena de 2022. Se, lidar com os fatos sendo uma pessoa comum já é difícil, imagine como uma instituição que tem compromisso de oferecer respostas ao grupo que representa e à sociedade na qual está inserida.
Conversamos com o secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Joel Portella Amado, que nos falou sobre os desafios da Igreja no Brasil no último ano e os temas que devem movimentar 2022, como as eleições.
 
 
Em 2021, a CNBB se posicionou sobre diversos temas relevantes para a sociedade: política, meio ambiente, políticas públicas diante da pandemia, economia... Olhando o quadro geral, o que o Sr. destacaria como situações desafiadoras para a Igreja e os bispos no Brasil?
2021 foi um ano bastante desafiador. A pandemia continua deixando suas marcas. Marcas que se agravaram que agravaram situações. Dentre as quais, a pobreza em suas variadas formas. E aí, quando falamos de pobreza, nós não podemos deixar de considerar a fome. E aí, o quadro efetivamente se agravou. Aqui, para nós da CNBB, chegam vários pedidos de ajuda. O Fundo Nacional de Solidariedade atendeu mais de 80% de projetos ligados exatamente ao combate à fome. Mas preocupa também o que eu penso poder chamar de insegurança emocional.
 
O que seria essa 'insegurança emocional'?
No mundo em que temos informações de todo tipo, compreensões para todas as direções... Exemplo mais claro, e agora mais presente, é o da vacinação. Nós temos vacinas e nós temos problemas com a vacinação. O Brasil tem um histórico bonito de erradicação de doenças por meio da vacinação. No entanto, nós vemos agora crescer a rejeição às vacinas, numa atitude sem justificativa alguma. Isso abala a confiança das pessoas, gerando muitas incertezas. Foi por isso que eu usei a expressão insegurança emocional. Por outro lado, buscando olhar o aspecto positivo - afinal, sempre temos que fazer assim - nós encontramos as iniciativas pessoais e comunitárias em favor da solidariedade. Compartilhamento de alimentos, que é o exemplo clássico, com o trabalho de conscientização a respeito da vacina, da vacinação, e outras ações também. É a sociedade civil se organizando e fazendo a sua parte. Nas democracias efetivas, a sociedade civil organizada tem uma função indispensável.
 
Como a Igreja no Brasil avalia a resposta da sociedade aos seus posicionamentos, levando em conta que hoje vivemos em uma sociedade mais plural, do ponto de vista religioso e ideológico?
A Igreja tem clareza de que vive num mundo plural. Cada vez mais plural. E isso tem, de fato, algumas implicações. A primeira é de que a igreja precisa continuar apresentando sua mensagem, independentemente de aceitação ou não. Evangelizar não é uma questão de estatística. A mensagem do evangelho não depende da Igreja. É algo que a Igreja recebeu e por isso não pode se calar. Existe - isso sim importante - uma diferença entre apresentar e impor. A Igreja não deseja impor sua mensagem, mesmo que alguém entenda assim, e acuse a Igreja de imposição. A Igreja deve apresentar, sempre com o máximo de clareza na linguagem, com a confirmação do testemunho e a disponibilidade para o diálogo. Eu diria que são as três grandes características da apresentação do Evangelho em qualquer tempo, em qualquer lugar.
 
A Igreja se vê concretamente ouvida quando se manifesta?
O importante é não esquecer que entre impor e apresentar tem uma grande diferença. Nesse sentido, eu posso dizer que em nível de conferência episcopal, em nível de CNBB, a palavra é ouvida sim. Mudou foi o formato. Isso é claro. Já não temos mais as características de outras épocas. Mas a igreja continua a ser ouvida. Ela já não fala tanto, por exemplo, através da mídia tradicional, mas tem outros caminhos pra se manifestar. Um dos caminhos - eu gosto de destacar sempre - é o das comunidades locais, onde a palavra é ouvida, é muito ouvida. E há de se considerar esse importante caminho de comunicação. Tudo, enfim, vai depender do que se está dizendo e do modo como se está dizendo.
 
Como fazer com que o posicionamento da Igreja diante da realidade brasileira seja percebido e gere reflexões para além do conjunto dos fiéis?
A Igreja fala por meio da CNBB e fala também por meio das comunidades. Essa segunda fala, por meio das comunidades, é uma fala que não aparece em nível de grande mídia. Mas tem um grande impacto. São dois momentos que precisam estar bem integrados. A fala maior da CNBB ou então do bispo local é a fala que acontece nas comunidades. Com as pessoas reunidas, conversando, dialogando sobre as questões importantes. Quando esses dois momentos estão integrados a grande fala da Igreja, digamos assim, ela acontece. Ao contrário, quando o bispo local ou a própria CNBB estão chamando a atenção pra uma questão e as comunidades locais, seja porque razão for, acabam focalizando outras questões, aí sim a dificuldade de comunicação é maior.
 
2022 será um ano de muitos eventos. No contexto da sociedade brasileira, as questões de ordem política estarão no foco, já que estamos falando de um ano eleitoral. Como a Conferência está se preparando para este tempo?
As questões eleitorais estarão, sim, presentes na preocupação da Igreja no Brasil. Justamente porque as questões eleitorais dizem respeito aos rumos do bem comum. E isso é um dado evangélico. Há uma irrenunciável responsabilidade da Igreja pelo bem comum. Porém, as questões eleitorais vão estar presentes no conjunto de outras preocupações, exatamente por causa do princípio do bem comum. Essas outras preocupações são, por exemplo, o empobrecimento da população, as polarizações e os ódios, a manipulação das informações e assim por diante. O importante, eu vejo assim, é não abordar uma questão em separado, mas perceber a conexão entre elas e como o discernimento de uma questão pode ajudar no discernimento das demais, como, por exemplo, a ideia de que pensar, refletir sobre como o bem comum pode ajudar no discernimento eleitoral.
 
De forma prática, como isso está acontecendo?
No caso específico do processo eleitoral, a presidência da CNBB tem conversado com os bispos sobre o modo de proceder. Nós estamos realizando um processo de escuta dos diversos regionais - são dezenove no Brasil -, também do Conselho Permanente, do Conselho Episcopal de Pastoral, conhecido como CONSEP. Nós não desejamos que o caminhar da Igreja no Brasil, durante o processo eleitoral, seja a decisão de um ou de outro. Por exemplo: apenas da presidência da CNBB ou do bispo A ou do bispo C. Mas que surja do consenso entre os bispos, ouvindo, como eu disse, as diversas realidades desse grande Brasil.

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