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Bento XVI era o maior teólogo vivo, diz Dom Dimas Lara

Em entrevista à Agência de Notícias Signis, o arcebispo de Campo Grande falou sobre o legado e importância de Joseph Ratzinger para a Igreja Católica.

Há 1 ano - por Cléo Nascimento
Bento XVI era o maior teólogo vivo, diz Dom Dimas Lara
(foto por Arquivo pessoal (Dom Dimas))
Até às 9h34 (5h34 de Brasília) deste sábado (31/12), em Roma, Joseph Ratzinger, o Papa Emérito Bento XVI, era o maior teólogo vivo. A opinião do Arcebispo de Campo Grande (MS) e ex-secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Dimas Lara Barbosa. "Bento XVI é o último de uma verdadeira plêiade de teólogos que caracterizou o pré-Concílio, os tempos do Concílio e do imediato pós-Concílio", diz Dom Dimas, em entrevista à Agência Signis.
 
Como secretário-geral da CNBB e vice-presidende do Conselho Episcopal para a América Latina (Celam), Dom Dimas encontrou-se pessoalmente com Bento XVI em mais de uma ocasião. E lembra do Papa Emérito, que morreu neste sábado, aos 95 anos, como uma pessoa de uma "inteligência brilhante", com a qual se podia falar de qualquer assunto. E que, apesar da fama de austero, era afável e acolhedor.
 
"O Papa Bento teve a coragem de colocar o dedo na ferida ou em várias feridas. É inevitável que isso acabe desgostando muita gente. Mas eu não tenho dúvida que o legado do Papa Bento, particularmente do pontos de vista da reflexão teológica, veio para ficar", analisa Dom Dimas.
 
Leia a entrevista, abaixo
 
O que o senhor destaca do pontificado de Bento XVI?
Dom Dimas Lara Barbosa: Eu destaco meus encontros pessoais com ele, durante quatro anos, como secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e dois anos como vice-presidente do Celam (Conselho Episcopal para a América Latina). Todos os anos, nós íamos a Roma para visitar os diversos dicastérios e éramos recebidos pelo Papa. E ele sempre foi muito acolhedor. Realmente uma pessoa de uma inteligência brilhante. Era um momento sempre muito esperado. Eu destaco a visita dele ao Brasil, para a canonização do Frei Galvão (Santo Antônio de Sant'Anna Galvão) e para a abertura da 5ª Conferência do Episcopado Latinoamericano e Caribenho, a chamada Conferência de Aparecida. O discurso de abertura de Bento XVI durante o início da Conferência marcou, deu o tom de tudo o que viria depois. E, sem dúvida, o seu diálogo fé e razão, o seu amor à verdade. Veritas in Caritate, Caritas in Veritate sempre foram marcas da sua missão. E chama a atenção também na sua vinda ao Brasil, ele foi muito impactado por essa vinda aqui. Um grande amigo dele me disse que ele voltou para Roma com coração verde-e-amarelo. Porque havia muito medo de que o impacto da transição de João Paulo II - que era um homem da comunicação, do diálogo, um atleta - ser sucedido por um Papa que sempre foi mais de vida acadêmica, mais tímido e, inclusive, mais idoso quando foi eleito. Mas a vinda dele ao Brasil mostrou muito claramente que ele era capaz de reunir as multidões. O número de pessoas em Roma não diminuiu. Até aumentou. Se nos tempos de Papa João Paulo II as pessoas iam para Roma para ver o Papa, com o Papa Bento, as pessoas iam a Roma para ouvir o Papa.
 
Bento XVI é reconhecido como um grande teólogo. Em que nível ele estaria entre os grande teologos da Igreja?
Dom Dimas Lara Barbosa: Para mim, até ontem (30 de dezembro), era o maior teólogo vivo. Realmente, Bento XVI é o último de uma verdadeira plêiade de teólogos que caracterizou o pré-Concílio, os tempos do Concílio e do imediato pós-Concílio. São nomes que fizeram parte de uma grande geração de pensadores. Hoje, eu nem saberia dizer se só temos algum teólogo que desponte com essa magnitude. Então, para mim, Bento XVI era, até ontem, o maior teólogo vivo.
 
Como foi para o senhor conhecer Bento XVI?
Dom Dimas Lara Barbosa: Eu o conheci logo que nós fomos eleitos na presidência, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Dom Luiz Soares Vieira e eu, para a presidência da CNBB. No dia seguinte, nós fomos ao aeroporto de Guarulhos (SP) receber o Papa Bento XVI, que vinha para a canonização de Frei Galvão e para a Abertura da Conferência de Aparecida. Ali, então, é que eu pude recepcioná-lo. Logo depois, nós fomos, no dia seguinte, almoçar com ele no Mosteiro de São Bento e, de cara, já deu para perceber a sua estatura intelectual e sua simpatia. Realmente, para mim, foi um privilégio ter podido desfrutar desses momento com o Papa Bento XVI.
 
Embora Bento XVI passasse a imagem de uma pessoa mais dura, austera, muitas das pessoas que o conheceram dizem que ele era alguém cortês, atencioso com todos. O senhor compartilha dessa impressão?
Dom Dimas Lara Barbosa: Eu nem diria que o Papa Bento era duro como teólogo. Ele era preciso, era uma pessoa de uma profundidade muito grande, que, naturalmente, não se contentava com mediocridades. E, por isso, alguém que, quando tinha que entrar em um debate, dava o melhor de si. De modo que, sem dúvida alguma, era sua própria estatura intelectual que fazia com que as pessoas percebessem que ele não brincava em serviço. Mas, sim, já como cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ele sempre foi muito afável, muito acolhedor. A gente podia falar do que quisesse com ele.
 
Muito se falou dos escândalos e polêmicas durante o pontificado de Bento XVI. O senhor acha que isso impacta na imagem que ele deixa para o mundo?
Dom Dimas Lara Barbosa: Eu diria que o Papa Bento foi e teve a coragem de colocar a mão na ferida. Realmente, com ele começaram a estourar os primeiros escândalos, ou, pelo menos, aqueles mais notórios, mais bombásticos, de abusos de vulneráveis. E, sem dúvida, ele sofreu muito com tudo isso. Era algo com que a própria Igreja tinha que aprender a lidar. Isso ficou claro para nós, inclusive, nessa última visita Ad Limina, de novo à Congregação para a Doutrina da Fé, o atual prefeito, disse 'tivemos que aprender como lidar com toda essa questão'. Porque não havia, inclusive, protocolos. Não havia uma norma ou normas mais específicas, mais rígidas que foram surgindo já com Bento XVI e mais agora com o Papa Francisco. Então, sim, o Papa Bento teve momentos muito sofridos por causa de tudo isso e tentaram manchar a sua imagem por causa dessas confusões todas, que não vieram dele. Vieram de fora, mas, como ele representava a Igreja e era seu líder maior, as coisas acabavam atingindo a pessoa dele também. Mas isso, estamos acostumado. Tentam manchar a imagem de Pio XII, tentam manchar a imagem de João XXIII, de Paulo VI e do Papa Francisco. Existem pessoas, sites, inclusive católicos, que se dedicam a malhar o Papa Francisco. Então, volto a dizer. O Papa Bento teve a coragem de colocar o dedo na ferida ou em várias feridas. E, antes mesmo, como cardeal, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, hoje Dicastério para a Doutrina da Fé, ele teve coragem de colocar a mão em muitas feridas, em muitas situações que precisavam de um posicionamento oficial da Igreja. É inevitável que isso acabe desgostando muita gente. Mas eu não tenho dúvida que o legado do Papa Bento, particularmente do pontos de vista da reflexão teológica, veio para ficar.

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