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Agravada durante pandemia, situação de violência aumenta e ameaça povos indígenas, aponta relatório do Cimi

Crise sanitária não inibiu avanço de invasões e exploração em terras indígenas. Aumento registrado é de 141% em relação a 2018.

Há 2 anos - por Cléo Nascimento
Registro de garimpo ilegal em maio de 2020, durante a pandemia, na TI Yanomami. Além da destruição ambiental, da violência e dos conflitos, garimpeiros atuam como vetores da Covid-19 para dentro do território.
Registro de garimpo ilegal em maio de 2020, durante a pandemia, na TI Yanomami. Além da destruição ambiental, da violência e dos conflitos, garimpeiros atuam como vetores da Covid-19 para dentro do território. (foto por Chico Batata/Greenpeace Brasil)
Tragédia, ameaça e omissão são palavras-chaves no Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, com dados de 2020, e que foi apresentado na tarde desta quinta-feira (28), em evento online pelas redes sociais do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
 
O documento aponta um cenário desolador para os povos originários no segundo ano de presidência de Jair Bolsonaro. Sem um plano coordenado de proteção do governo federal, estas populações estiveram ainda mais expostas e vulneráveis em seus direitos, seu território e até à própria vida.
 
No ano passado foram registrados 263 casos de "invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio", número que acompanha 2019 - com 256 casos - e considerado um disparo de 141% em relação a 2018, quando foram identificadas 109 ocorrências do tipo. Este foi o quinto aumento consecutivo, que em 2020 atingiram pelo menos 201 terras indígenas, de 145 povos, em 19 estados.
 
"Lamentamos muito que o governo federal, governos estaduais e outras instâncias da sociedade não cumpram com o seu papel. Isso tudo acontece porque, lamentavelmente, o Brasil ainda é uma sociedade da impunidade. Esperamos que isso mude. Vamos continuar nessa luta, nesse empenho, nesse trabalho", disse o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, durante a live de apresentação do documento.
 

"Passar a boiada"

 
Lembrando a fala do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre o momento ideal para "passar a boiada", o presidente do Cimi, Dom Roque Paloschi também se queixou das inúmeras violações, consequências do descaso do poder executivo: "Comunidades foram expulsas de suas terras, lideranças foram assassinadas e, com essa política anti indígena, incentivou-se o divisionismo no interior dos povos".
 
"Os invasores, em geral, são madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais, fazendeiros e grileiros, que invadem as terras indígenas para se apropriar ilegalmente da madeira, devastar rios inteiros em busca de ouro e outros minérios, além de desmatar e queimar largas áreas para a abertura de pastagens. Em muitos casos, os invasores dividem a terra em “lotes” que são comercializados ilegalmente, inclusive em terras indígenas habitadas por povos isolados", denuncia o relatório.
 
O levantamento cita, por exemplo, a situação de povos como os Yanomamis, cujas terras, estima-se estarem ocupadas por, pelo menos, 20 mil garimpeiros ilegais. Além de gerar conflitos, devastação e violência, a presença dos invasores é porta de entrada para inúmeras enfermidades, entre elas, a Covid-19. Em 2020, 43 mil indígenas foram contaminados e 900 morreram em decorrência de complicações da doença, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
 
O Cimi também chama a tenção para o aumento considerável dos assassinatos de indígenas no Brasil. Em 2020 foram 182 – um número 61% maior do que o registrado em 2019, quando contabilizados 113 mortes por homicídio.
 

O Relatório

 
O Relatório Violência contra os povos Indígenas do Brasil é produzido desde 1956 e tem a participação dos povos indígenas, dos missionários e missionárias do Cimi e dados de organismos públicos. O documento se tornou um importante instrumento de denúncia de violações contra os povos originários.

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