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Desapropriação de terras indígenas no mundo é equivalente à extensão da França e Alemanha, aponta relatório

Documento, produzido por organização de inspiração cristã, menciona agronegócio como um dos principais agentes causadores do fenômeno.

Há 3 anos - por Cléo Nascimento com informações do Vatican News
Garimpo na região do Rio Uraricoera (RR), em  Terra Indígena Yanomami.
Garimpo na região do Rio Uraricoera (RR), em Terra Indígena Yanomami. (foto por Bruno Kelly | Fotos Públicas)
Nem a Covid-19, que forçou a paralisação de atividades no mundo inteiro, conseguiu interromper ou sequer desacelerar a desapropriação de áreas pertencentes aos povos indígenas e comunidades vulneráveis em todo mundo. É o que mostra o Relatório  "Os Donos da Terra: sobre a apropriação de terras 2021", produzido pela Federação de Organismos Cristãos de Serviço Internacional Voluntário (FOCSIV).
 
A quarta edição da pesquisa, divulgada no dia 9 de julho, indica que já passa de 93 milhões de hectares a soma dos territórios tomados de populações locais. Esse número equivale à área ocupada pela França e Alemanha juntas e incorpora um aumento de quase 6% em relação a 2018, ano de lançamento da série.
 
O relatório aponta o agronegócio como um potencializador deste aumento, especialmente na América Latina e a África, sendo a mineração o uso mais comum, seguida pelo desmatamento, grandes plantações de monoculturas, biocombustíveis e a extração de hidrocarbonetos.
 

Povos e comunidades mais vulneráveis

 
Para a presidente da FOCSIV, Ivana Borsotto, o fator das desapropriações é reflexo de um modo de produção que "destrói e produz resíduos" e "gera nas pessoas do mundo ocidental novas necessidades inúteis, funcionais à manutenção do próprio sistema".
 
O fenômeno também se interliga com a mudança climática, as migrações causadas pela desertificação de muitas áreas do mundo e o aumento da desigualdade entre os habitantes do planeta. A desapropriação da terra, de fato, afeta as comunidades mais vulneráveis e economicamente frágeis.
 
O documento destaca histórias de resistência dos povos indígenas na defesa de suas terras e de seus direitos, sobretudo, o direito à vida e a um ambiente saudável. Não é coincidência que o relatório 2021 seja dedicado aos 331 líderes indígenas que foram mortos em 2020 por se oporem à devastação e à poluição em larga escala das florestas, da terra e da água, lutando em defesa do ecossistema e do direito de todos de viverem em um ambiente saudável e sustentável.
 

Povos deslocados por corporações

 
Em entrevista ao portal Vatican News, o responsável pela política da Federação Andrea Stocchiero explicou que "a desapropriação das terras é operada por empresas multinacionais privadas, mas também por grandes protagonistas públicos".
 
 
"Mais de 25 milhões de hectares de terra foram apropriados para mineração e quase 10 milhões para grandes plantações de monoculturas." 
 
 
Investimentos de muitos Estados neste setor têm crescido nos últimos 20 anos, com destaque para China e Índia, e por meio de fundos soberanos. "Eles tomam posse de terras onde já vivem agricultores e povos indígenas que, no melhor dos casos, conseguem ficar lá sem acesso a recursos, enquanto no pior dos casos são expulsos e deslocados. Essa é a terra onde viveram seus ancestrais e eles não entendem porque da noite para o dia não são mais seus proprietários", contou Stocchiero.
 
Quando conseguem formar lideranças, essas comunidades se organizam em movimentos de camponeses, mas é comum o envolvimento em conflito com a segurança contratada por empresas públicas e privadas.  
 

São necessárias regras vinculativas

 
As consequências para o meio ambiente são devastadoras, observou o representante da Federação: "Mais de 25 milhões de hectares de terra foram apropriados para mineração e quase 10 milhões para grandes plantações de monoculturas. São operações que não têm nenhuma consideração pelo meio ambiente, destroem a biodiversidade e criam terra e água mortas".
 
Andrea Stocchiero citou o caso da República Democrática do Congo, onde a extração do cobalto, necessário para a fabricação de baterias, alimenta o fenômeno do trabalho infantil e causa uma terrível poluição. Ele fez um apelo para que a comunidade internacional torne obrigatórias as diretrizes de conduta empresarial em matéria de direitos humanos e meio ambiente. "Atualmente são boas práticas adotadas de forma voluntária, mas precisamos de algo obrigatório".
 

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