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Romaria de Brumadinho: pela ecologia, pela memória e pela justiça

Mobilização acontece nesta quarta-feira (25), dia em que se completam 4 anos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, que resultou em 272 mortes. Vale, Tüv Süd e 16 pessoas responderão na justiça por crime ambiental e homicídio.

Há 1 ano - por Cleo Nascimento
Romaria de Brumadinho: pela ecologia, pela memória e pela justiça
(foto por Aedas - Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social)
Já se vão quatro anos desde o dia 25 de janeiro de 2019, quando 272 pessoas perderam suas vidas com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais. Na intenção de que a memória não ficasse à sombra do tempo, no ano seguinte a Arquidiocese de Belo Horizonte, diversas organizações e movimentos populares trataram de organizar uma mobilização que pudesse fazer memória ao trágico evento e suas vítimas, pedir justiça e, ao mesmo tempo, suscitar na sociedade a consciência da preservação ambiental. Assim surgiu a Romaria pela Ecologia Integral de Brumadinho, que em 2023 tem a sua quarta edição.
 
Nesta quarta-feira (25/1), centenas de pessoas, entre moradores, familiares de vítimas, representantes de associações, religiosos e organizações se encontraram na Igreja São Sebastião, matriz da cidade para lembrar o acontecimento, participar de um momento de oração pelas vítimas e fazer uma caminhada num ato de protesto e tributo às pessoas mortas neste desastre.
 
As atividades tiveram início por volta das 7h30 da manhã com a acolhida, seguida por uma coletiva de imprensa e de uma missa, celebrada pelo bispo-auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Vicente Ferreira. Os participantes levavam faixas reivindicando direitos e girassóis em homenagem às 272 joias.
 
O lema "272 joias - Memória, Justiça e Esperança" contrapõe a fala do então diretor presidente da Vale, Fábio Schvartsman, que, poucos dias depois do desastre disse: "A Vale é a joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu numa de suas barragens por maior que tenha sido a sua tragédia". Indignados, os familiares adotaram a palavra para se referir às pessoas que perderam suas vidas.
 
"Minha Priscila foi embora; a minha Priscila ligava várias vezes para mim, ela me tomava a bênção, era uma filha exemplar, uma trabalhadora exemplar que foi dizimada sem dó, nem piedade naquela avalanche de lama. Hoje, nestes quatro anos eu venho aqui. Eu estou mais forte sim pra caminhar e pra lutar por essa justiça tão demorada e tão sofrida como essa justiça criminal. Hoje, fazendo quatro anos, nós quase perdemos o processo por conta da prescrição do crime ambiental", disse Dona Maria Regina da Silva, mãe de Priscila Helen, uma das vítimas da tragédia, durante a coletiva.
 
Na segunda-feira (23/1), a Justiça Federal de Minas Gerais aceitou a denúncia do Ministério Público contra a Vale, a Tüv Süd (empresa alemã contratada para certificar a segurança da barragem) e 16 pessoas físicas. As companhias responderão por crimes contra a fauna, flora e por poluição, já os indivíduos, responderam também por homicídio qualificado por cada uma das vítimas. Na semana passada, a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o andamento imediato do processo, devido à possibilidade de os crimes prescreverem neste dia 25.
 
Além das mortes, a ruptura da barragem liberou uma enorme quantidade de rejeitos que causou destruição de comunidades, a poluição do Rio Paraopeba e grande degradação ambiental. Para uma das agricultoras da região, Valéria Antonia Carneiro, trata-se de um pesadelo que se repete dia após dia desde 2019: "Nos remete todos os dias, tanto familiares de vítimas fatais, como nós, moradores do território, ao longo da bacia a viver e a reviver isso todos os dias. A agricultura vem pagando um preço de um crime que ela não cometeu. Nós, pequenos agricultores, aqui de Brumadinho, ao longo da bacia, ficamos invisíveis".
 
Louvor das Criaturas
 
Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte faz parte do grupo daqueles que assumiram a causa e,  junto aos atingidos, luta pelos direitos de quem sofre os impactos da tragédia: “Nós só vamos experimentar Cristo se a gente não abandonar nossos irmãos que foram triturados por um crime hediondo. Se eu não enxergar Deus em Brumadinho, não enxergaremos em nenhum outro lugar”.
 
O bispo compôs, inclusive, uma música para inspirar a Romaria. Intitulada "Louvor das Criaturas", a canção é baseada no Cântico dos Três Jovens do Livro de Daniel e uma homenagem as criaturas de Deus.
 
Assista ao clipe da música.


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