Liberdade de opinião
Quanto mais são publicadas notícias e afirmações falsas, maior é o peso da liberdade de opinião. Todos nós, pessoas com letramento formal e acesso às redes sociais, temos acesso ao direito de opinião. Porém, usamos essa prerrogativa com pouca prudência, com vaidade e às vezes com arrogância. Focalizamos a nossa atenção nos instrumentos de compartilhamento disponíveis, esquecendo que por trás da forma e da tecnologia, deve haver uma substância. Desvalorizamos a nossa opinião ao partilhar com pressa e superficialidade, como se bastasse o domínio dos cliques e do teclado.
A opinião vale muito mais que um espaço ocupado na memória digital. Opinar é abrir uma trilha, deixando-se guiar pela argumentação racional, para desanuviar as questões duvidosas. A opinião não é uma operação de convencimento, mas uma exposição baseada em fundamentos, que certamente permitem o dissenso, mas não devem comportar a exibição apaixonada e autorreferencial, nem se deixar arrastar pelo gosto da polêmica vazia, que preenche o tempo e o espaço, mas não esclarece e não promove diálogo.
É lamentável constatar que a reputação de certas opiniões é medida pelo número de seguidores e pelo índice de aprovação. A validade dos posicionamentos assumidos deveria ser questão de consistência analítica. Contudo, não basta: é preciso também densa capacidade de leitura para que se instaure um círculo virtuoso de discussão, compreensão e, quem sabe, consenso.
A liberdade de opinião é uma possibilidade incrível que temos à disposição para confrontar diferentes posições, explorar hipóteses e analisar soluções para cada situação que a vida nos propõe. É um campo tendencialmente ilimitado, em que alguns rigores da análise científica podem ceder espaço a abordagens que unem saberes de áreas nem sempre contíguas ou facilmente associáveis. O importante é que a opinião expressa siga um fio lógico, com o propósito de ampliar as possíveis interpretações de um tema. De fato, a opinião está associada a juízo ou a parecer sobre algo ou alguém, mas o termo opinativo, ao contrário, indica uma postura pouco confiável ou vaidosa, conferindo ao termo valor pejorativo.
Se para dizer bobagem basta ser opinativo, para dar opinião é preciso responsabilidade. A responsabilidade de opinião é o pressuposto para exercer a ampla liberdade que essa modalidade de discussão oferece. O sujeito opinativo publica sem critério ou com o único critério de chamar a atenção: pode usar a retórica, o ódio, a provocação, a mentira e outros instrumentos para fomentar a reação. Não forma opinião. No máximo, forma seguidores que, provavelmente por falta de instrumentos adequados de leitura, deixam-se cair nas redes de uma comunicação vazia, quando não danosa.
Dar opinião em um contexto poluído pelo vírus do opinionismo requer foco. É preciso descartar o que não vale a pena ser comentado e o que não deve ser comentado, a fim de evitar que questões de pouca conta adquiram uma consideração pública que induza ao equívoco sobre a sua importância. Dar opinião é um exercício de seleção criteriosa; ser opinativo é contribuir para a inflação da comunicação, que não cria informação e aumenta a desorientação das pessoas diante dos fatos que precisam ser compreendidos para que vivamos melhor.
Às vezes o fluxo de comunicação se abate sobre nós por meio dos vários canais tradicionais e tecnológicos a que temos acesso e não conseguimos fazer o necessário discernimento para evitar cair no opinionismo. Nesses casos, é melhor calar. O silêncio também pode ser uma forma de liberdade, uma das mais difíceis de exercer em tempos nos quais falamos antes mesmo de pensar, nos quais a atração do contato e da palavra parece fácil e irrefreável. Senti a necessidade de fornecer essa explicação, parar, respirar e recomeçar. Vivemos dias intensos em que se afirma tudo e o seu contrário. Preferi resistir à tentação das opiniões apressadas, escolhi a liberdade do silêncio. Acredito que possa ser perdoada por quem me acompanha semanalmente. Em breve, retornarei com opiniões, esperando não cometer os erros que elenquei aqui e que, infelizmente, são tão comuns que às vezes passam despercebidos até mesmo pelos leitores mais avisados.
Gislaine Marins
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