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Talvez, quem sabe

Há 21 horas
Talvez, quem sabe

Gislaine Marins

Às vezes não percebemos que a palavra mais angustiante e desafiadora que usamos no nosso cotidiano é “talvez”. Não temos memória dos nossos primeiros passos na vida e jamais poderemos saber o que será do nosso futuro: “talvez” encerra as nossas esperanças, dúvidas, possibilidades e, sempre, um mistério que não se revela.

“Talvez” é palavra profundamente humana, limitada, desprovida de onipotência. Os humildes sabem usá-la muito bem, assim como os cientistas e os sábios. Os ignorantes, ao contrário, têm certezas sobre tudo, pois acreditam somente naquilo que conhecem. Por isso, o mundo atual é um grande fracasso: quanto mais acesso temos a informações, mais nos tornamos enciclopédicos e menos analíticos. Vivemos como se bastasse saber aquilo que cai, por força do cálculo aleatório, sob os nossos olhos.

“Talvez” alerta-nos para o fato de sermos chamados a pensar, não a repetir ou espalhar passivamente aquilo que nos é enviado. É a chave para imaginar o que ainda não foi dito, para sonhar o que ainda não foi feito. Se “talvez” é um mistério sobre o passado e o futuro, é uma janela aberta sobre o presente. “Talvez” antecede a coragem de dar o primeiro passo, “talvez” detém a nossa voz para não cometer uma injustiça.

Há sempre um “talvez” à nossa espera. É palavra antiga, composta: como outra coisa. Ocultá-la equivale a falsificar aquilo que pode ser apenas semelhante. É acreditar que aquilo que brilha é ouro, em vez de saber que talvez não seja.

Neste mundo de pessoas com opinião sobre tudo, existem caminhos que podemos trilhar somente se confiarmos na sua possibilidade. Pode parecer difícil ou paradoxal pensar que os desconfiados sejam otimistas: afinal, temos fórmulas que calculam quase tudo, até mesmo os índices e as taxas de probabilidade que deveriam atenuar a nossa desconfiança ou aumentar o nosso otimismo. Os teimosos, que gostam de expressões como “quem sabe”, “pode ser” e “talvez” não desconfiam somente que as coisas possam dar errado. Um desconfiado convicto é aquele que, nos piores momentos e com a maior humanidade, acredita que tudo possa dar certo. Talvez, quem sabe.

Sobre o autor

Gislaine Marins

É doutora em Letras, professora, tradutora e mãe.