Talvez, quem sabe

Gislaine Marins
Às vezes não percebemos que a palavra mais angustiante e desafiadora que usamos no nosso cotidiano é “talvez”. Não temos memória dos nossos primeiros passos na vida e jamais poderemos saber o que será do nosso futuro: “talvez” encerra as nossas esperanças, dúvidas, possibilidades e, sempre, um mistério que não se revela.
“Talvez” é palavra profundamente humana, limitada, desprovida de onipotência. Os humildes sabem usá-la muito bem, assim como os cientistas e os sábios. Os ignorantes, ao contrário, têm certezas sobre tudo, pois acreditam somente naquilo que conhecem. Por isso, o mundo atual é um grande fracasso: quanto mais acesso temos a informações, mais nos tornamos enciclopédicos e menos analíticos. Vivemos como se bastasse saber aquilo que cai, por força do cálculo aleatório, sob os nossos olhos.
“Talvez” alerta-nos para o fato de sermos chamados a pensar, não a repetir ou espalhar passivamente aquilo que nos é enviado. É a chave para imaginar o que ainda não foi dito, para sonhar o que ainda não foi feito. Se “talvez” é um mistério sobre o passado e o futuro, é uma janela aberta sobre o presente. “Talvez” antecede a coragem de dar o primeiro passo, “talvez” detém a nossa voz para não cometer uma injustiça.
Há sempre um “talvez” à nossa espera. É palavra antiga, composta: como outra coisa. Ocultá-la equivale a falsificar aquilo que pode ser apenas semelhante. É acreditar que aquilo que brilha é ouro, em vez de saber que talvez não seja.
Neste mundo de pessoas com opinião sobre tudo, existem caminhos que podemos trilhar somente se confiarmos na sua possibilidade. Pode parecer difícil ou paradoxal pensar que os desconfiados sejam otimistas: afinal, temos fórmulas que calculam quase tudo, até mesmo os índices e as taxas de probabilidade que deveriam atenuar a nossa desconfiança ou aumentar o nosso otimismo. Os teimosos, que gostam de expressões como “quem sabe”, “pode ser” e “talvez” não desconfiam somente que as coisas possam dar errado. Um desconfiado convicto é aquele que, nos piores momentos e com a maior humanidade, acredita que tudo possa dar certo. Talvez, quem sabe.

Gislaine Marins
Mais lidas
-
1
Notícia
Chama da Palavra – Curso para Jovens Comunicadores
Há 1 ano -
2
Notícia
VEM 2024: festival de música católica da Evangelizar abre inscrições
Há 1 ano -
3
Notícia
Catequistas Brasil 2024 acontece em Aparecida (SP) de 2 a 4 de fevereiro
A 5ª edição reunirá 2500 catequistas, além de nomes referenciais da catequese, editoras parceiras, feira de catequese e atrações musicais. A novidade deste ano será a 1ª edição do Prêmio Frei Bernardo Cansi.
Há 1 ano -
4
Notícia
Novo arcebispo de Maceió fala à imprensa
Em encontro com jornalistas na Catedral Metropolitana Nossa Senhora dos Prazeres, Dom Beto falou de missão, serviço e sinodalidade
Há 1 ano -
5
Notícia
Milícia da Imaculada lança ação “Cartas para Francisco”
Crianças poderão enviar suas cartas e desenhos para a sede da Milícia da Imaculada. Leia o regulamente para participar
Há 1 ano -
6
Notícia
CNBB LANÇA CAMPANHA “É TEMPO DE CUIDAR DO RS” COM AÇÕES DE ORAÇÃO, SOLIDARIEDADE E INFORMAÇÃO
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança a campanha “É Tempo de Cuidar do Rio Grande do Sul”, com iniciativas de oração, solidariedade e informação da Igreja no Brasil (CNBB) pelo povo do RS.
Há 11 meses