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Sinodalidade está no essência do ser Igreja

Há 2 anos
Sinodalidade implica diálogo entre aqueles que são e fazem a Igreja
Sinodalidade implica diálogo entre aqueles que são e fazem a Igreja (foto por Luís Henrique Marques)

Em tempos de profusão de mensagens nas redes sociais – sob o inegável e legítimo direito à liberdade de expressão -, como muitos de nós já o constatamos, muita coisa tem sido dita de forma precipitada e sem conhecimento de causa. No que se refere à vida da Igreja, isso não é diferente. Um dos assuntos que recentemente seguem sendo motivo de controvérsia é o tema da sinodalidade. Entre aqueles que se apegam a uma visão legalista da vida da Igreja, segundo a qual as normas parecem valer mais do que as pessoas, a sinodalidade aponta para o perigo da “democratização” da Igreja. Ledo engano.

Sinodalidade - do grego “caminhar juntos” – aponta para a importância do diálogo, da escuta recíproca, o que não implica retirar da hierarquia a prerrogativa (sustentada pela graça) de tomar certas decisões em favor da comunidade. Para o papa Francisco, uma Igreja sinodal é aquela que atua segundo os sinais da graça e da Vontade de Deus, revelados na experiência concreta da caminhada da comunidade eclesial.

Por isso, é preciso olhar para essa experiência concreta feita por todos os fiéis, refletir sobre  ela para, então, identificar o que Deus espera da Sua Igreja e seguir em frente. Trata-se de substituir uma visão autocrática da Igreja por aquilo que Francisco chama de “pirâmide invertida”, em que o “topo” está localizado abaixo da base, ou seja, de modo  que a autoridade eclesiástica se coloca a serviço do Povo de Deus.

Essa compreensão fundamental orienta a realização do Sínodo sobre Sinodalidade, iniciado oficialmente em Roma nos dias 9 e 10 de outubro, tendo como tema central “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Diferentemente de outros sínodos, de Roma, esse segue, neste momento, tendo continuidade nas dioceses de todo o mundo e deve ser concluído ao fim de dois anos. Após a fase diocesana, que vai até abril de 2022, ocorrerá uma fase continental (entre setembro de 2022 e março de 2023), processo que será concluído com uma “fase da Igreja Universal”, em Roma, em outubro de 2023.

O que se objetiva, afinal, com esse sínodo? Compreender como ser Igreja de forma cada vez mais coerente com a sua própria missão no mundo. Nada diferente do que já se buscou com os concílios realizados ao longo da história da Igreja até aqui. O último deles – o Vaticano II –, na prática, partiu exatamente do princípio da sinodalidade, na medida em que se buscou ouvir os representantes da Igreja ao redor do mundo e, mais ainda, a partir do momento em que essa se abriu ao diálogo com o mundo.

Esse, como outros sínodos já realizados durante o pontificado de Francisco, quer continuar esse caminho. Porém, apresenta um avanço significativo em relação aos demais: ao invés de se limitar a ouvir os prelados, se deseja escutar os fiéis, que estão na base de sustentação da comunidade eclesial, e considerar a sua experiência concreta que, possivelmente em muitos casos, tem muito mais a dizer do que a perspectiva limitada de um grupo pequeno de representantes da hierarquia. A meu ver, nada mais eclesial do que isso, porque fundamentado na mais genuína Tradição eclesial, assim como testemunham os Atos dos Apóstolos a respeito da Igreja primitiva: “Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum” (Atos 2,44).

 

Artigo publicado originalmente na edição de dezembro de 2021 da revista Cidade Nova.

Sobre o autor

Luis Henrique Marques

Jornalista e editor-chefe das revistas Cidade Nova e Ekklesía Brasil, da Editora Cidade Nova. É mestre em comunicação e doutor em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem pós-doutorado em comunicação pela Faculdade Casper Líbero. Foi secretário da Diretoria da SIGNIS Brasil no triênio 2020-2022 e editor-chefe da Agência SIGNIS. Blog profissional: prof-luis-marques.webnode.com