200 anos de independência?

O papel da ciência histórica não é o de compreender apenas o passado por si mesmo, mas contribuir para compreender o presente com base no passado, razão pela qual datas importantes como os 200 anos da proclamação da independência do Brasil merecem a nossa atenção. É o que buscamos fazer com a publicação da matéria de capa desta edição, à qual está diretamente vinculado o artigo da seção Chave de Leitura: Sociedade. Com efeito, do grito do Ipiranga para cá, seguimos perguntando-nos qual independência, de fato, a nação brasileira conquistou e quem realmente se beneficiou disso.
Revisitar o passado, com a ajuda do olhar clínico de quem pesquisa e estuda a História, implica identificar e compreender as continuidades, similitudes e diferenças assumidas ao longo do tempo por um grupo, povo ou nação. Esse é o exercício que procuramos fazer ao avaliar o que dois séculos de independência política trouxeram ao Brasil. Nesse sentido, é inevitável nos perguntarmos o que significa essa independência e o quanto, de fato, conseguimos conquistá-la. Imagino que o leitor, por sua experiência como cidadão, já tenha a própria resposta para esses questionamentos. Cidade Nova quer dar a sua contribuição nessa reflexão que todos nós brasileiros precisamos fazer, especialmente agora, às portas de um novo processo eleitoral.
Embora historiador de formação, enquanto pesquisador, não me dediquei ao estudo da história política brasileira. Por isso, não me sinto muito autorizado a emitir um parecer especializado sobre o tema. Mas posso dizer que, daquilo que aprendi e sigo aprendendo com uma leitura contínua sobre essa temática, é que a história do nosso País precisa ser recontada cada vez mais do ponto de vista de quem esteve sempre “nos bastidores” e pagou um preço altíssimo para que poucos se beneficiassem de algumas conquistas obtidas, como foi o caso da independência do Brasil. Basta pensar na multidão de pessoas escravizadas que, durante séculos, sustentaram a economia brasileira e que em nada se beneficiaram com o gesto de dom Pedro I.
Não há, portanto, mais espaço para posturas ufanistas, assim como é preciso enxergar quem são os verdadeiros “heróis” da nossa História. Com certeza, eles não correspondem a muitas figuras cultuadas por certos livros didáticos, sobretudo durante o período da ditadura militar. Para além de tradicionais relatos dos acontecimentos, a História mais autêntica é cheia de contradições, muitas das quais motivo da nossa vergonha, porque feita de preconceito, discriminação, exploração predatória e assim por diante.
De qualquer modo, revisitar a nossa história, examinando de forma crítica o processo que nos trouxe ao que somos hoje, pode também significar a possibilidade de, conscientes dos nossos erros e acertos, tentarmos assumir uma nova trajetória que, no futuro, poderá permitir aos que nos sucederão apresentarem uma narrativa melhor sobre o que nos tornamos como nação, fruto da prática da justiça, da paz e da fraternidade.

Luis Henrique Marques
Jornalista e editor-chefe das revistas Cidade Nova e Ekklesía Brasil, da Editora Cidade Nova. É mestre em comunicação e doutor em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem pós-doutorado em comunicação pela Faculdade Casper Líbero. Foi secretário da Diretoria da SIGNIS Brasil no triênio 2020-2022 e editor-chefe da Agência SIGNIS. Blog profissional: prof-luis-marques.webnode.com
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