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Cristãs e cristãos se unem em oração contra as políticas de morte

Há 2 anos
Cristãs e cristãos se unem em oração contra as políticas de morte
(foto por No Barco de Cristo)

Os últimos dias no Brasil têm sido marcados pela morte. Um clima, um cheiro que impregna na vida e contamina a alma: desanima, tira a esperança. Sempre com a memória das quase 670 mil mortes por covid-19 (números oficiais), que nos circundam e causam tanta dor, vivemos 2022 com o peso das 233 mortes por enchente e desabamentos em Petrópolis (a maior da tragédia da história desta cidade do Rio de Janeiro) e, agora, das quase 100 vidas perdidas em Recife pelo mesmo motivo. 

A chacina da Vila Cruzeiro, que tirou a vida de 23 moradores desta favela do Rio, foi seguida da brutal execução de Genivaldo de Jesus Santos, com tortura seguida de morte por asfixia, em um carro da Polícia Rodoviária Federal. Isto representou, em poucos dias, uma sequência de absurdos praticados por agentes do Estado que deveriam atuar pela segurança e não pela morte.

Enquanto isto, uma igreja evangélica em uma cidade do Espírito Santo organiza uma rifa para arrecadar fundos para seus projetos, cujo objeto ofertado é uma espingarda automática. O que muita gente pensou ser piada de mídias sociais ou fake news, foi confirmado pelo pastor em discurso divulgado em vídeo, marcado pelas políticas no poder do Brasil de hoje, que se resumem na ideologia do “olho por olho, dente por dente”.  

Neste clima que cheira morte e desesperança, no ano que é marcado por um processo eleitoral dos mais importantes da história da República e da democracia no Brasil, é importante, do ponto de vista da fé cristã, indicar o que representam estes dias, passagem de maio para junho: a semana de Pentecostes. 

O tempo de Pentecostes é um significativo para quem é cristão e pode inspirar também quem não é. Representa um convite para não nos deixarmos levar pelo abatimento com a morte e pelas pressões dos que estão no poder e a promovem.

A festa de Pentecostes, que significa “sete semanas”, foi originalmente criada pelos judeus para celebrar a colheita de suas plantações. Na tradição cristã, ela ganha novo sentido, pois registra que foi durante o Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, que os seguidores e seguidoras de Jesus, reunidos no mesmo lugar, fechados, com medo de serem perseguidos, foram surpreendidos com a presença divina.

A partir dessa experiência, estas pessoas sentiram-se encorajadas a interagirem com outras pessoas e povos, superando barreiras sociais e de línguas. Segundo a narrativa da Bíblia, naquele dia o vento soprou forte e, junto com uma mística, como línguas de fogo, aqueceu a fé daqueles homens e mulheres pobres e iletrados. Eles passaram a se comunicar com pessoas de outras culturas presentes à festa: um entendia o outro na sua própria língua, quebrando barreiras culturais e sociais. Além disso, tomaram coragem e se sentiram empoderados para confrontarem os poderes imperiais, ainda que tivessem que pagar o alto preço da perseguição, prisão, tortura e martírio. 

É por isso que há uma tradição de mais de cem anos (desde 1908) praticada anualmente na semana de Pentecostes: a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Ela nasceu na Europa e é uma das fontes do movimento ecumênico, com o desejo de cristãos e cristãs testemunharem ao mundo, atendendo ao desafio que Jesus colocou em uma oração, registrada na Bíblia (João 17.21), para que seus seguidores pudessem ser UM. A proposta se espalhou pelo mundo e é promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas. No hemisfério norte a semana é historicamente celebrada em janeiro e no sul passou a ser praticada nas Semanas de Pentecostes. No Brasil, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

O tema para 2022, articulado por igrejas em todo o mundo é “Vimos o seu astro no oriente e viemos prestar-lhe homenagem”, tendo como base o Evangelho de Mateus, capítulo 2, que narra o encontro dos três reis magos do Oriente com o bebê Jesus e sua família, quando do seu nascimento em um curral em Belém, na Palestina.

O material escrito pelo Conselho de Igrejas do Oriente Médio foi adaptado à realidade brasileira pelo CONIC Agreste (Pernambuco).  O texto explica: “O astro se ergueu no Oriente (Mateus 2.2). É do Oriente que o sol se levanta. É nesta região, que hoje conhecemos como Oriente Médio, que a história de Jesus se fez concreta (Lucas 1.78)”.

O foco nos reis magos é enfatizado, na publicação da Semana, a partir do fato de eles revelarem “a unidade de todos os povos nações, desejada por Deus. Eles viajam vindo de países distantes e representam culturas diversas, mas estão impulsionados pela mesma vontade de ver e conhecer a criança recém-nascida. (...) Os magos ofertam seus tesouros à criança recém-nascida. (...) Os diversos presentes, portanto, nos oferecem uma imagem das inúmeras compreensões que existem nas tradições cristãs...”.

Durante esta semana, cristãos e cristãs que defendem a paz com justiça contra todas as forças da morte, seja nas tragédias da covid-19, das enchentes e desabamentos e das políticas de eliminação de pessoas pobres, se reúnem em oração ativa. A mensagem parte das igrejas do Oriente Médio que também vivem um contexto de muita injustiça e dor. Ela inspira e encoraja, no clima de Pentecostes, cristãos, cristãs e todas as pessoas no Brasil que, com esperança, buscam, em 2022, dar fim ao pesadelo que assola o país.

Todos os materiais para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2022 podem ser encontrados aqui. https://www.conic.org.br/portal/conic/noticias/subsidios-da-souc-baixe-gratuitamente-e-ajude-nos-a-divulgar

 

Artigo publicado geralmente pela revista Carta Capital em 1o de junho de 2022.

Sobre o autor

Magali Cunha

Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e colaboradora do Conselho Mundial das Igrejas. É articulista da revista Carta Capital, respondendo pela coluna Diálogos da Fé. É também editora-geral do Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias.