Existe limite para a fofoca?

“Estou comentando só com você. Não espalha, tá!”, ou “se alguém perguntar quem te contou, não diga que fui eu!” Essas são frases típicas que despertam a curiosidade do interlocutor sobre algo que não deva sair da esfera privada. Determinar quando surgiu a fofoca pode ser uma investigação estéril, mas, independentemente de quando isso ocorreu, sabemos que ela é prejudicial.
Há os que se vangloriam de obter informações e colocam-nas como um trunfo, geralmente, para se obter alguma vantagem, ou simplesmente pela malícia de expor alguém. A fofoca insiste e persiste numa sociedade que escancara, cada vez mais, as pessoas, ignorando até princípios éticos, por exemplo. Há, inclusive, uma indústria que se beneficia do lucro obtido pelo vazamento das informações, das fofocas obtidas e daquelas que são criadas.
Diante desta premissa, talvez nos perguntemos como habitar um mundo marcado por essas características. Ainda existe a esfera do público e do privado? O filósofo coreano Byung-Chul Han, na obra Sociedade da Transparência (2017), afirma que “quando o próprio mundo se transforma em espaço de exposição, já não é possível o habitar[...]. Habitar significa originariamente estar satisfeito, estar em paz, permanecer onde se está” (p. 33). Estar em paz, a partir desta acepção de Heidegger, é um desejo, e porque não uma necessidade, de toda a humanidade. A paz pessoal, a paz familiar, a paz social e também a paz nas igrejas.
O Papa Francisco traz, com veemência, em alguns momentos a temática da fofoca. Segundo ele, no Angelus de 06 de setembro de 2020, “as fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja.” Para o pontífice, o grande orquestrador da fofoca é o diabo: “ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade.” O apelo é forte: irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar”.
Então, existe limite para a fofoca? Creio que o limite seja o eu. Cada um deve ter o propósito de cortar o círculo vicioso a partir de valores como a consciência de si, o respeito ao outro, a empatia, a solidariedade e a fraternidade. Valores tão antigos quanto a própria fofoca e que nunca saem de moda. É preciso ter a ousadia de dizer não a uma proposta tentadora de descobrir algo alheio e, mesmo quando a vontade de romper com essa convicção for esmorecida, alimentemos a utopia de um mundo mais habitável e menos ferido.

Marcus Tullius
Mestrando em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas). Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil e membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB. É autor do livro Esperançar: a missão do agente da Pastoral da Comunicação, pela Editora Paulus.
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