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Falar com o coração

Há 1 ano
Falar com o coração

A mensagem do papa Francisco para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado em 21 de maio, publicada no último dia 24 de janeiro, é mais uma lição de como realizar uma comunicação profundamente humana, porque profundamente enraizada em valores evangélicos. Além disso, ela contém a iluminação do Espírito Santo, própria de um pastor que revela a sensibilidade nascida da experiência de um Evangelho encarnado. “Falar com o coração” é a expressão que define a reflexão de Francisco nessa mensagem, aliás, ela própria expressão da harmoniosa combinação de coração, fé e razão.

Essa ideia-chave corresponde perfeitamente àquilo que, repetidas vezes, o pontífice afirmou sobre ser o ato comunicativo uma experiência de encontro entre pessoas, bem mais do que de ideias, argumentos ou posições. Com efeito, a perspectiva humanizadora de Francisco para a comunicação é bastante clara: precisamos falar com o coração, porque falamos para pessoas que, para além da razão, compreendem a mensagem muito mais a partir do coração, isto é, do seu interior, de seus sentimentos e sensibilidade. Nesse sentido, não à toa o simbolismo do coração nos remete ao que faz pulsar a vida. 

É evidente que não se trata, como é usual encontrarmos na mídia, sobretudo comercial, de se apelar ao sentimentalismo ou aos nossos instintos mais elementares, mas sim àqueles sentimentos mais puros, que dignificam a vida humana, como a justiça, a beleza, a paz, o amor e assim por diante. Sentimos que, mesmo que em algum momento os neguemos, na realidade os desejamos profundamente. Por isso, chama a atenção o que diz o papa sobre o fato de que, quem comunica, precisa ele mesmo ter seu olhar purificado ante a realidade e sobre o seu semelhante. Esse é o típico olhar de quem tem uma vida segundo os valores evangélicos mais genuínos. Não é o olhar do ingênuo, sentimental ou alienado, mas do manso de coração, daquele que tem sede de justiça, do pobre de espírito. De fato, não se doa (nesse caso, uma mensagem) o que não se tem. Se a pessoa não tem ou vive a paz, não é capaz de doá-la, de defendê-la. 

Compreender o outro a quem se comunica e fazê-lo com clareza, misericórdia, compaixão ou empatia, deveria determinar muito como emitimos nossas mensagens, seja numa comunicação interpessoal e in loco, seja mediante o uso de meios de comunicação ou redes sociais. Apenas por meio dessa postura – argumenta o papa –,  o receptor é capaz de, por sua vez, compreender com profundidade (portanto, também com o coração) aquilo que o emissor deseja comunicar, ainda que a mensagem exponha diferenças de visão ou posição.

Penso, aliás, que temos investido muito mais na eloquência ou assertividade de nossas mensagens do que na atenção e cuidado com quem a destinamos. Sob a justificativa de que a verdade tem que ser dita, muitos têm ignorado a caridade e, até mesmo, a educação. Em sua mensagem, o papa Francisco defende que o encontro com a Verdade, a despeito das diferenças de posição, pode acontecer justamente porque, na relação entre pessoas cujo coração puro a almeja, esse milagre acontece, com certeza operado pelo Espírito Santo. Como costumava afirmar Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, um dos frutos desse tipo de relação não é que a verdade de um se sobrepõe a do outro, mas que a Verdade originada do amor recíproco se faz presente entre as pessoas, pela ação do Espírito Santo. 

Isso tudo pode soar “místico” ou mesmo fantasioso para alguns. Mas é preciso considerar que o que sempre manteve a Igreja em pé não foi o poder humano, que se impôs a uma maioria. Aliás, toda vez que isso se deu, a Igreja esteve a um fio de se implodir. Ao contrário, o que manteve (e mantém) a Igreja de Cristo em pé é justamente essa capacidade de, pelo amor mais genuinamente evangélico, constituir relações de encontro entre as pessoas. 

Podemos, enfim, sempre refinar essas relações na medida em que, como propõe Francisco, nos esforçarmos em criar pontes entre as pessoas (e não barreiras), processo no qual a comunicação feita com a pureza de coração é vital.

Sobre o autor

Luis Henrique Marques

Jornalista e editor-chefe das revistas Cidade Nova e Ekklesía Brasil, da Editora Cidade Nova. É mestre em comunicação e doutor em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem pós-doutorado em comunicação pela Faculdade Casper Líbero. Foi secretário da Diretoria da SIGNIS Brasil no triênio 2020-2022 e editor-chefe da Agência SIGNIS. Blog profissional: prof-luis-marques.webnode.com