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São Paulo, metrópole cosmopolita

Há 2 anos
São Paulo completa, neste 25 de janeiro, 468 anos
São Paulo completa, neste 25 de janeiro, 468 anos (foto por Wikipédia)

Não obstante sua jovem idade de 468 anos, completados neste 25 de janeiro de 2022, São Paulo figura entre uma das metrópoles mais cosmopolitas. Abriga um grande mosaico dos “mil rostos do outro”. Basta um rápido giro pelo centro velho da cidade – como a praça da Sé e a Liberdade (incluindo a “baixada do Glicério”), a 25 de março e o parque Dom Pedro, o largo São Bento e a praça da República, o Brás e a Mooca, a esquina da São João com a Ipiranga (como lembra a música de Caetano), o largo 13 de Maio e a Vila Prudente, além da imponente Av. Paulista e os Jardins – mas também um giro pelas periferias mais longínquas, para dar-se conta de quantos haitianos, venezuelanos, bolivianos, peruanos, equatorianos, chilenos, paraguaios, angolanos, congoleses, senegaleses e agora afegãos circulam pelas ruas.

Mas há também os filhos e netos de segunda e terceira geração dos que chegaram antes, tais como portugueses e espanhóis, japoneses e chineses, coreanos e indianos, italianos e alemães, libaneses e sírios!... Enquanto os que vieram há mais tempo lutam para levar adiante uma série de pequenos e médios estabelecimentos comerciais, os mais recentes se juntam pelas esquinas e praças como vendedores ambulantes; outros encontram algum trabalho em uma ampla rede de indústrias têxteis; as mulheres tentam encontram certa acomodação no trabalho doméstico e não poucos entram para a construção civil ou o setor terciário. Grande parte dos recém-chegados, porém, amarga condições precárias de trabalho e habitação, para sequer falar do acesso à escola, saúde, transporte e outros direitos ligados à justiça humanitária.

Pluriétnica e multicultural, como tantas outras, a capital paulista vê desenrolar-se dois aspectos simultâneos e aparentemente contraditórios. Por uma parte, tem acesso direto e imediato a um gigantesco leque de diferentes valores, idiomas, expressões culturais e religiosos, costumes, culinária!... Impõem-se tanto a diferenciação dos mais diversos povos e culturas quanto as mais distintas visões de mundo. Escancaram-se janelas para novas formas de ser e de pensar, como também para novas oportunidades. Desdobra-se diante de toda população uma riqueza diversa e sem par de cores, de linguagens, de relações, de conhecimentos – enorme matéria prima que pode levar a cruzamentos e saberes inusitados e imprevisíveis. Seguindo a conhecida teoria de Darcy Ribeiro, dir-se-ia que está em curso um novo estágio da formação deste “povo novo”, o qual, a partir de tantas origens desconhecidas entre si, vai forjando um projeto humano cuja força e resultado são manifestos na alegria, na criatividade na festa e na miscigenação.

Por outra parte, o caminho positivo do parágrafo anterior não pode ser idealizado. Nenhum tipo de mistificação deve ser alimentado. Em meio à convivência pacífica de tantos povos e culturas, crescem igualmente novas e velhas formas de racismo, discriminação e preconceito, quando não aberta perseguição. Evidente que o de rechaço diante do “outro, estranho e diferente” tem seu lado pontual e conjuntural. Deve-se, em boa medida, à ascensão de uma extrema-direita bizarra, nacionalista e xenófoba, com narrativa liberal e populista, que tende a ressaltar o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Também é evidente, porém, que o próprio Darcy Ribeiro questionava profundamente a chamada “democracia racial”, denunciando, com toda a energia, os males que esse pretenso pacifismo trouxe para os indígenas, negros e pobres.

Diante de tamanha diversidade e riqueza de rostos e de saberes, descortina-se uma dupla via: ou o gueto, ou a comunidade. Enquanto esta última tende a ser aberta, dialogal e acolhedora frente às diferenças, o gueto tende a se fechar e se isolar atrás de muros. Um conduz à criação e cultivo de recíprocas hostilidades, a outra constrói e procura manter pontes de duas mãos, no sentido de oferecer a todos e todas a possibilidade de recomeçar a vida. Na conclusão, vale a pergunta: por qual dessas alternativas caminhará a metrópole de São Paulo? Qual seria o melhor presente de aniversário para esta colossal cidade? Não há dúvida que a população reza, torce, luta e espera pela alternativa que conceda a cada pessoa humana justiça e dignidade.

Sobre o autor

Pe. Alfredo J. Gonçalves

Missionário scalabriniano, atua no serviço dos migrantes e refugiados, no momento exercendo a função de vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), ligado à CNBB.