"Democracia" de arma e bíblia na mão

Essa é a “democracia” de nosso inominável chefe supremo: ódio, mentira, ataques, difamação, ameaças, linguagem grosseira!... Essas diatribes, filhas bastardas do casamento incestuoso entre negacionismo e supremacismo, confundem-se com a liberdade de expressão. Pouco importam as consequências nefastas dessa perversa união neofascista e neonazista, sempre com os dentes arreganhados e as unhas afiadas! O negacionismo rompe, um a um, todos os fios de ouro que tecem as relações humanas, mesmo aquelas primordiais e elementares. Daí a polarização míope, cega e exacerbada – que tem como consequência a divisão e o cancelamento – entre pais e filhos, irmãos e irmãs, marido e esposa, familiares e parentes, amigos!... O opositor é visto e perseguido como inimigo. A intriga destila o veneno que respiramos: no casamento, na família, nas comunidades, na sociedade e nos intercâmbios internacionais. Esgarçam-se a olhos vistos, os laços, o bordado do tecido social, tão longa e vagarosamente alinhavados.
O supremacismo, por sua vez, tem por princípio a superioridade “natural” de determinados grupos humanos sobre outros. Surge a ideia de raça pura e superior que, em momentos de crise, caos e barbárie, costuma emergir do túnel escuro do tempo. Criam-se então duas espécies de seres humanos: os que podem e devem sobreviver a qualquer custo e os que podem ser exterminados. “Nós, os bons”, de um lado; “eles, os maus”, do outro. Puros e impuros, com sério risco de contaminação. O resultado disso, como testemunha o caso de Hitler, é a luta de vida ou morte pelo espaço vital do mais forte, em detrimento dos que se revelam frágeis e vulneráveis. Os brancos, machos, ricos e “perfeitos” têm e sagrado direito de sobreviver para dar continuidade à raça pura. Os demais!... Bem os demais que vivam das migalhas e da caridade pública, e se por acaso estas escasseiam, seu desaparecimento não deixará de ser uma maneira que resolver a situação. Sub-repticiamente reaparece com força a “solução final”.
Nossos ancestrais, os povos indígenas, as comunidades quilombolas ou ribeirinhas, os migrantes e refugiados, os negros e afro-americanos, a população LGBTQIA+, o povo em situação de rua, os trabalhadores rurais sem-terra, os componentes das cracolândias e das periferias, mulheres que “não aceitam o seu lugar na sociedade”, crianças pobres e analfabetas, estudiosos, artistas e ativistas sociais, ambientalistas em particular – são vistos como ilhas e arquipélagos selvagens e desconhecidos, divididos entre si e desconectados com a modernidade ou pós-modernidade. Os pobres e indefesos são criminalizados, as vítimas culpabilizadas pelos ataques que padecem. Demonizados de igual forma acabam sendo os defensores dos direitos e da dignidade humana. Só servem para atrapalhar as forças do progresso humano. Por que retardar o avanço de quem pretende produzir e alavancar o país? Por que impedir o agronegócio e a extração de nossas riquezas minerais e vegetais? Por causa desse “punhado” de pessoas que vivem no ócio e são incapazes de contribuir para um futuro rico e poderoso?
O projeto, embora brutal e diabólico deve ser revestido com roupagens religiosas. O famigerado slogan “Deus acima de todos” não pode faltar nessa visão psicopata do mundo. Bíblia e a arma andam juntas, como duas irmãs siamesas. São intercambiáveis. A bíblia cospe raios do céu sobre os pecadores incorrigíveis. Converte-se em arma privilegiada para defender-se dos infiéis e proteger-se do mal que ronda as portas, de modo particular contra a falta de patriotismo e o comunismo. Este, qual fantasma, está na esquina. A arma, de seu lado, cospe balas assassinas. Converte-se numa espécie de bíblia a ser utilizada contra os inimigos mais perigosos, aqueles que tudo criticam, que se organizam e, com petulante ousadia se mobilizam pelas ruas e praças. Da mesma forma que os dragões do Apocalipse, bíblias e armas soltam fogo pelas ventas para purificar o mundo e a história daqueles que insistem em mudar o rumo das coisas.
Ditadura? Totalitarismo? Lobos vestidos de cordeiros? Hipocrisia? Farisaísmo? Ação miliciana? Um pouco de tudo isso misturado ao veneno de uma ideologia do extermínio.

Pe. Alfredo J. Gonçalves
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