Escutar as várias vozes

Todos os anos, desde 1967, a Igreja Católica dedica um dia para celebrar e refletir sobre as comunicações sociais. A data foi criada durante o Concílio Vaticano II como gesto concreto da instituição no seu caminho rumo à comunicação. Durante esses mais de cinquenta anos de celebração, os papas têm escrito mensagens especiais sobre o tema.
Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco foram os pontífices que publicaram mensagens por ocasião das celebrações do Dia Mundial das Comunicações Sociais. A leitura e reflexão das 56 cartas escritas até agora garantem uma oportunidade singular para compreender o pensamento católico sobre a comunicação.
Em seus escritos, o Papa Francisco tem resgatados aspectos que remetem a gênese do processo comunicativo, que é a relação humana. Por diversas vezes, destacou que apesar da grandeza e relevância das tecnologias de informação e comunicação, o final último delas deve ser promover a relação, a proximidade entre as pessoas, sendo um meio para fomentar a relação humana.
Para o ano de 2022, no qual a data será celebrada no dia 29 de maio, a reflexão proposta pelo Papa está ligada à pedagogia da escuta, e o tema escolhido é “Escutar com o ouvido do Coração”. Porém, essa não é a primeira vez que o Francisco aborda a questão. Em 2016, ao escrever sobre a relação entre comunicação e misericórdia, Francisco lembrou que é fundamental escutar, pois “comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento''. Escutar é muito mais do que ouvir” afirmou.
Na linha de Francisco, a escuta deve ser entendida com proximidade, pois como ele mesmo relembra em sua mensagem de 2022, após ir e ver “para descobrir a realidade e poder narrá-la a partir das experiências dos acontecimentos e do encontro com as pessoas”, é necessário escutar. Uma verdadeira convocação a redescobrir a vocação primeira da comunicação que é promover comunhão, diálogo e interação.
Assim como Deus é capaz de inclinar o seu ouvido para escutar o seu povo, os comunicadores devem esforçar-se para produzir conteúdos que levem em consideração as diversas vozes dos povos. Afinal, a responsabilidade social de quem trabalha com comunicação é imensa, pois ao selecionar o trecho de uma fala para uma reportagem se define quem terá a oportunidade de ser lido ou ouvido no espaço dos meios de comunicação.
A autêntica comunicação católica deve ser dialógica, pois é na escuta do outro, no compartilhamento de suas vivências e experiências que se faz uma comunicação que transforma. Como destaca o Papa, “aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face”.
Como pede Francisco, “prestar atenção às razões do outro e procurar compreender a complexidade da realidade”. Com isso, o Papa convida os comunicadores a irem além do lugar tradicional da comunicação, de apenas registrar os acontecimentos da paróquia, é hora de fazer uma comunicação comprometida com a mudança da realidade, olhando e escutando o outro.
Eduardo Galeano um dia escreveu: “a primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la”. Por isso, para construir uma sociedade mais justa e fraterna, é necessário colocar-se em saída para o encontro com o outro, para escutar as várias vozes e sem medo amplificá-las através dos nossos meios de comunicação. É necessário ousadia para escutar e coragem para anunciar.

Ricardo Alvarenga
Doutor em Comunicação Social, jornalista e membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB
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