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Sacerdote relata como a guerra afetou o trabalho pastoral da Igreja na Ucrânia

Pe. Constantin Pantaley, da arquidiocese de Kiev faz apelo por apoio do mundo: "A Ucrânia precisa imediatamente de todos os tipos de ajuda".

Há 2 anos - por Cléo Nascimento
Momento de Oração em Abrigo.
Momento de Oração em Abrigo. (foto por Arquidiocese de Kiev | Pe. Mikhail Kramar)
O trabalho pastoral da Igreja Greco-Católica Ucraniana foi diretamente impactado nos últimos tempos. Neste domingo (27), a reportagem da Agência Signis conversou com o clérigo ucraniano, Pe. Constantin Pantaley, responsável pela Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Kiev, que nos relatou a situação do país e os esforços da Igreja para atender a população local, desesperada por qualquer tipo de ajuda.
 
Desde o início da ofensiva militar por parte da Rússia, iniciada na última quinta-feira (24), a rotina de Pe. Constantin, assim como de toda população que vive na Ucrânia, está muito diferente. Com pesar ele contou, por exemplo, que ontem não conseguiu celebrar pois estava na estrada, enfrentando um enorme congestionamento, com pontos de bloqueio.
 
"É possível fazer um trabalho pastoral com as pessoas em locais que estão seguros dos bombardeios. Estações de metro. Em situações de maior perigo, em algumas paróquias foi impossível celebrar e ter a participação das pessoas no serviço litúrgico. Algumas paróquias foram orientadas a transmitir pela internet ou usar serviços de vídeo. Por causa das situações de maior perigo, muitas paróquias adotaram o serviço remoto para a participação nas celebrações litúrgicas. Neste domingo foi impossível celebrar em Kiev", disse o padre.
 
Algumas paróquias seguiram a recomendação de fazer transmissões por vídeo, assim como durante os períodos de lockdown, devido à Covid-19.
 
Em busca de proteção
 
Pe. Constantin Panteley (Arquivo pessoal)
 
Além de confortar seus fiéis, Pe. Constantin tem também a responsabilidade de proteger e dar segurança à sua família - a Igreja do rito Greco-Católico permite que seus padres se casem. Quando conversamos, por meio de chamada de vídeo, ele relatou estar em rota de fuga para algum lugar "bem longe de Kiev", com sua esposa e seus 6 filhos.
 
Segundo a Agência da ONU para Refugiados - ACNUR, até o momento, pelo menos 440 mil pessoas já haviam fugido da Ucrânia para países vizinhos. Os maiores números foram para o oeste da Polônia, Hungria, Moldávia e Romênia. Estima-se que 4 milhões de pessoas deixem o país durante o conflito. Quem fica, se prepara para o embate.
 
"Deixe-me dizer uma coisa sobre os ucranianos. Ucranianos são pessoas de coração valente. Precisamos nos proteger e o mundo pode dar suporte à Ucrânia com armas, com coletes a prova de balas, capacete, equipamentos de segurança, tudo o que puderem para lutar. Não tem munição, não tem armas o suficiente. As pessoas pegam em armas para proteger o país, mas não têm munição suficiente para isso", explicou o sacerdote que atua na Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Kiev.
 
Pode parecer contraditório que um religioso fale sobre civis pegarem em armas para defender o país. Mas a recomendação é do próprio presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, numa tentativa de resistir às investidas russas.
 
Guerra pela sobrevivência
 
Apreensivo, o mundo acompanha o conflito no Leste Europeu através dos veículos de comunicação e mídias digitais. E não se pode negar que, paralelamente, há uma batalha envolvendo pontos de vista e versões e que, muitas vezes, não consideram o olhar de quem está sofrendo as consequências da guerra.
 
"Não temos nenhuma crise. O que temos é uma guerra pela vida do povo da Ucrânia, pela existência da Ucrânia, pela importância da Ucrânia sobreviver como nação. A questão é que se quer a completa destruição. Não é apenas uma questão territorial de conquista de território. A questão é a existência da Ucrânia. Essa guerra vem sendo preparada há anos", explicou com Pe. Constantin, deixando escapar nas pausas e no tom de voz a emoção e cansaço acumulados nos últimos dias.
 
Líderes pela paz
 
Diariamente, o arcebispo de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, tem compartilhado mensagens por meio de vídeo, a fim de levar um pouco de esperança ao povo e manifestar apoio aos soldados que estão em combate.
 
Segundo o portal da arquidiocese, o chefe da igreja local mencionou que o país vive o quinto dia "de uma guerra sangrenta, desumana e brutal". D. Sviatoslav também elogiou o "heroísmo de nossos soldados" e a "coragem de nosso povo", relatando episódios como de "pessoas mais velhas deitarem-se sob tanques para mantê-los fora de sua aldeia e cidade".
 
"Eu quero te pedir hoje - vamos fazer tudo para parar essa agressão, para parar a guerra. Mesmo quando parece impossível, mesmo quando diplomatas, advogados, chefes de estado dizem que é muito difícil, oramos para que o Deus da Paz dê sabedoria para parar a agressão através do diálogo", propôs o arcebispo, agradecendo, em seguida, o apoio, esforço e orações do Papa Francisco que, neste domingo, voltou a condenar veementemente a guerra.
 
"Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo interesses de parte e de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E se distancia das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito - pessoas comuns - são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele", disse o pontífice voltando a convocar o mundo para um dia de oração e jejum nessa quarta-feira de Cinzas, início da Quaresmas para os cristãos católicos.
 
Necessidades emergenciais
 
Pe. Constatin Pantaley nos disse que a orientação da arquidiocese é "dar suporte às pessoas e estar próximos das pessoas. Apoiá-las e estar junto com elas". No entanto, o trabalho precisou ser readequado e o desafio tem sido, sobretudo, informar sobre o que está acontecendo na Ucrânia e "pedir ajuda e apoio".
 
"A Ucrânia precisa imediatamente de todos os tipos de ajuda: 1) ajuda médica e humanitária, 2) dar suporte às necessidades de resistência do Exército, 3) suporte informativo da mídia sobre informações verdadeiras sobre a guerra contra a Ucrânia de fontes oficiais governamentais".
 
Segundo Pe. Constantin, perigos e aflições são impostos a todas as igrejas na Ucrânia porque estão unidas para o apoio solidário do Exército e daqueles que resistem à intervenção militar russa. Todos os párocos apoiam as famílias das paróquias com a medicina da oração e em todas as necessidades

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